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Por que você deveria dar um tempo das más notícias durante a quarentena?

Escrito por Silvia Ruiz

Esta semana eu fiz uma live sobre saúde e bem-estar durante a quarentena com a médica Vânia Assaly, nutróloga, endocrinologista e especialista em medicina do estilo de vida.

A ideia era dar dicas do que fazer para a gente se sentir melhor na quarentena. Dentre todas as dicas, a que mais me chamou atenção foi uma que me pegou em cheio: “Pare de ficar lendo notícias ruins o dia todo”, recomendou a médica.

Justo eu? Como jornalista, tenho o hábito de ter sempre duas ou três abas de portais noticiosos abertos no meu computador e checo as notícias a toda hora e parece impossível parar de fazer isso. Acontece que esse hábito neste momento está acabando com minha saúde e minha qualidade de vida. A culpa disso é o impacto que as más notícias, especialmente as que tratam de ameaças à nossa vida, têm no nosso cérebro e no nosso corpo todo.

Quando nossos ancestrais ainda viviam no ambiente selvagem e precisavam focar na sobrevivência, nosso cérebro desenvolveu mecanismos para nos ajudar a lidar com isso. No comando desse sistema estão duas estruturas com formato de amêndoa chamadas amígdalas. Elas são nossos sensores de risco, espécie de “centro de comando do medo”.

Toda vez que a gente leva um susto porque ouviu um barulho no escuro, por exemplo, são as amígdalas considerando a possibilidade de ser um predador pronto para nos atacar. Elas enviam comando para todo o nosso corpo ficar alerta para fugir ou enfrentar o inimigo. As mudanças nos deixam mais alertas, as pupilam se dilatam, a respiração e os batimentos cardíacos aceleram, o envio de glicose para músculos e órgãos que não são vitais para a sobrevivência, como o sistema digestivo, desaceleram. Hormônios do estresse também são liberados e nosso sistema nervoso simpático é acionado.

Esse efeito de estresse eventual é importante para a nossa vida, é um estresse positivo. O problema é isso se repetir várias vezes se tornando algo constante. “O que nós estamos vivendo neste momento com uma ameaça à nossa vida durante a pandemia, para nosso cérebro é como se tivesse uma cobra do lado de fora da nossa casa pronta para o ataque”, explica Vânia.

Toda a vez que a gente lê uma nova notícia negativa sobre a pandemia nosso cérebro entende que a ameaça permanece lá fora. É como se toda hora a gente fosse na janela dar uma olhada na tal cobra.” E isso provoca um estado permanente de estresse, que é extremamente prejudicial para nosso corpo e nossa mente, inclusive para a imunidade. Justamente tudo que a gente não quer pelo bem da nossa saúde e bem-estar neste momento.

O que fazer então para estar ao mesmo tempo bem informado e sem se estressar?

Obviamente notícias ruins acontecem todos os dias, mas, neste momento de pandemia, elas estão se acumulando e dominando todas as nossas conversas. Informações são compartilhadas o dia todo em grupos de amigos e de família no WhastApp, as redes sociais estão abarrotadas de posts e, por motivos óbvios, os portais de notícias só falam disso (é normal, esse é o papel da mídia, passar o tempo todo dando os últimos acontecimentos). Ou seja, nosso cérebro passa o dia recebendo a informação de que “a cobra está lá fora” (nesse caso, o vírus, o desemprego, as mortes etc).

Vânia recomenda que a gente dê um tempo para o cérebro para interromper esse ciclo de estresse. “Reserve um horário do dia para ler as notícias de fontes confiáveis. O resto do tempo, ignore as notícias que passam o dia todo, afinal não é nada tão urgente que não pode esperar até o dia seguinte. Resista à tentação de abrir cada nova notícia enviada nos grupos da família”.

Ela também indica usar métodos de meditação para acalmar todo o nosso sistema e reduzir esse efeito negativo de todo esse estresse.

Como eu disse, essa é uma missão difícil para uma jornalista, mas já estou adotando para o meu próprio bem. Leio as noticias mais importantes uma vez ao dia. Afinal, tudo que preciso saber sobre coronavírus eu já sei, os cuidados a tomar etc. Ficar lendo sobre novos casos, número de mortes, não vai fazer diferença na minha vida.

Assim como ler sobre casos tristes de mortes que estão sendo reportadas. Somos seres empáticos, vamos sofrer com a dor do outro, não tem jeito. Mas, neste momento, um pouco menos desse tipo de informação pode ser melhor para a gente. Nosso corpo e nossa mente agradecem.

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