O trabalho remoto ainda era um modelo sendo estudado pela grande maioria das empresas. Com a pandemia de Covid-19 e a necessidade de isolamento, o home office se tornou realidade instantânea e impôs uma nova rotina para as equipes do supply chain. Em um cenário imprevisível, com demandas inéditas e urgentes, certas características se destacaram como diferenciais nos perfis de alguns profissionais que atuam na área de suprimentos.
De uma forma geral, o senso de autoresponsabilidade aumentou. As pessoas começaram a se cobrar ainda mais e a produtividade cresceu. Na Atvos, empresa de bioenergia, com uma equipe de trinta pessoas que lidam com aproximadamente três mil fornecedores e movimentações da ordem de R$ 2 bilhões por ano, houve redução de falhas de processo nesses três meses de trabalho à distância.
Certamente, esse resultado envolve outros fatores e não apenas qualidades individuais. O principal é o estágio avançado da digitalização da empresa. Ter plataformas e ferramentas com todos os processos acessíveis de forma remota e, principalmente, com os máximos níveis de proteção de dados, possibilita aos compradores trabalhar em um ambiente seguro.
Nesse ponto, surge uma outra questão a ser observada pelas empresas. Mais do que transformação digital, é preciso avançar no processo de transformação cultural. É fundamental que os profissionais estejam aplicando e praticando. O ciclo inclui passar pelas fases de treinamento, experimentação, correção e seguir com aprimoramento permanente para que a cultura digital se enraíze. Não é de um dia para outro.
Com bons softwares de e-procurement, e-marketplace e e-sourcing, é possível liberar as equipes de uma rotina manual, descentralizada e a certeza da conformidade. Parte da energia dispendida é direcionada para o planejamento e uma visão mais estratégica das aquisições.
Quem atua em supply chain só consegue ser tático com direcionamento se estiver integrado com as outras áreas da empresa e conhecer todas as etapas do negócio. Somente com plena compreensão dos objetivos empresariais, o profissional conseguirá interagir com o fornecedor e trazer as condições mais adequadas aos rumos da empresa. Compradores que dominam as atividades da empresa e o mapa dos fornecedores, com suas potencialidades e debilidades, conseguem obter o máximo dos parceiros e perceber eventuais riscos.
Mas fora da zona de conforto, em situações pouco conhecidas, a criatividade se mostrou ser um atributo vantajoso. Encontrar alternativas de produtos quando alguns itens como máscaras, termômetros, luvas e vacinas, se tornaram prioridade de praticamente todas as empresas simultaneamente foi um desafio à capacidade de inovar. Além disso, muitos desses produtos não fazem parte da lista normal de suprimentos e novos fornecedores precisaram ser identificados.
Compradores detalhistas são valiosos, pois conseguem extrair das áreas demandantes todas as informações e especificações para a realização de uma compra bem-feita, inclusive antecipar pontos que podem gerar problemas.
Um comprador que seja um bom negociador, argumentativo e rigoroso são incontestavelmente úteis. No entanto, o foco segue nas relações humanas, mesmo que à distância. Mais ainda, a digitalização não deve ser entendida como sinônimo de contatos frios e burocráticos. Ela existe para apoiar os indivíduos, esses, sim, protagonistas do processo, pois são os decisores.
Sempre terão espaço os compradores que estão dispostos a ouvir e são diplomáticos ao falar, que se engajam com as preocupações e necessidades do solicitante interno e que interagem com os fornecedores sabendo que são pessoas reais e não apenas um código. Em geral, são os que constroem relações duradouras, fundamentais em qualquer tempo, seja de crise ou não.
Via Administradores